Estrutura populacional e fenologia da palmeira Astrocaryum aculeatissimum no Parque Nacional da Tijuca, RJ

Abstract

O conhecimento da estrutura populacional e da fenologia podem fornecer subsídios para o entendimento do estado de conservação de uma população. Astrocaryum aculeatissimum é uma palmeira endêmica da Mata Atlântica que possuiu dependência de animais para que o recrutamento de novos indivíduos seja realizado. Diante do histórico de fragmentação e defaunação ocorrido nesse bioma, algumas plantas apresentam dificuldades em manter uma população estável, devido à perda das interações com a fauna e das alterações em sua fenologia reprodutiva. Diante desse cenário, este estudo teve como objetivo realizar o levantamento da estrutura populacional de A. aculeatissimum no Parque Nacional da Tijuca (PNT), 10 anos após a reintrodução do seu principal dispersor de sementes na área, e descrever os períodos de ocorrência das fenofases reprodutivas da espécie, entendendo a influência dos fatores climáticos da área nessas ocorrências. Para a análise da estrutura populacional foram alocadas 25 parcelas de 40x40m no Setor Floresta do PNT, onde todos os indivíduos da espécie foram contabilizados, marcados e classificados em estádios ontogenéticos. A fenologia foi analisada a partir da marcação de 20 indivíduos reprodutivos e do seu acompanhamento mensal durante um ano, de outubro de 2019 a setembro de 2020. Em cada vistoria foi verificada a presença de inflorescências, frutos imaturos e frutos maduros. A distribuição temporal das fenofases reprodutivas foi analisada por meio da estatística circular, e para verificar se os dados estavam distribuídos de maneira uniforme foi utilizado o teste de Rayleigh (Z). Dos 647 indivíduos amostrados nas parcelas, a maior parte foi de juvenis (66,5%), tendo sido encontrados apenas 16,3% dos indivíduos nos estágios iniciais (plântula + infante). A razão entre o número de indivíduos de estágio plântula e os indivíduos adultos foi de 1,16. A ocorrência de inflorescências, frutos imaturos e frutos maduros foi concentrada em diferentes períodos ao longo do ano. O pico de floração ocorreu em dezembro de 2019, período mais quente e úmido. Os frutos imaturos, ocorreram ao longo de quase todo o estudo (exceto por três meses), iniciando no final do período quente e úmido e a temperatura foi significativamente relacionada com o desencadeamento dessa fenofase. Já os frutos maduros ocorreram de outubro a novembro de 2019 e de abril a setembro de 2020, com maior frequência no período quente e úmido, mas com uma parte dos indivíduos permanecendo até o período frio e seco, e a temperatura de dois meses anteriores ao início dessa fenofase apresentou efeito significativo. A estrutura populacional encontrada não diferiu da descrita 10 anos atrás, sugerindo que não houve efeito na mesma após a reintrodução do seu principal dispersor de sementes. Isso pode estar relacionado ao longo período que esses indivíduos levam para avançar em seus estágios ontogenéticos e/ou pelo fato da cutia realmente não estar afetando o recrutamento de novos indivíduos, devido a outros fatores presentes no Parque. As fenofases reprodutivas foram concentradas em diferentes períodos do ano, sendo os frutos imaturos presentes por um maior período de tempo. Cerca de metade desses frutos não se tornaram frutos maduros, e isso juntamente com uma menor produtividade observada na área, pode contribuir para o baixo recrutamento de plântulas. Estudo futuros devem focar nos predadores de sementes dessa espécie no PNT, auxiliando assim em um melhor entendimento dos fatores que afetam sua estrutura populacional.